Resido em Porto Alegre, Estado do Rio Grande do Sul, Brasil, desde praticamente 1965. O município que me viu nascer, numa manhã fria, a 29 de junho de 1940, se chama Colorado, no planalto médio do norte gaúcho.

Nasci a três metros dessa árvore que ainda existe e foi fotografada em 2009.

Ela renasce de seu próprio tronco e é chamada, popularmente, de “Maria Mole”, pois seu tronco é pouco consistente. Meu pai tinha uma pequena propriedade, duas colônias de terra, e depois de ter morado na casa paterna, a uns 4 km desse local, adquiriu essa terra e eu fui o segundo filho a nascer aqui. Dos onze irmãos (sete homens e quatro mulheres), três nasceram na casa paterna, os outros sete aqui e a última irmã no hospital em Colorado. A casa onde nasci ficava a 3 km de Linha Garibaldi, uma pequena vila a 6 km da sede do município de Colorado, que naquele tempo se chamava Boa Esperança. Passou a se chamar Colorado em 1950 e se emancipou em 1964.

Igreja São João Batista – Colorado

Quando se emancipou possuía ao redor de 6 mil habitantes e atualmente possui menos de 4 mil. Como era constituído de pequenas propriedades, com a chegada da mecanização as propriedades foram se concentrando e muitas famílias foram migrando para outros estados, principalmente Paraná, Mato Grosso, Rondônia, Goiás, Distrito Federal, Maranhão e Pará. A maioria são produtores rurais, principalmente de soja. Minha própria família começou a migrar ao final da década de 1950 para Barracão, Paraná, para onde, em 1970, inclusive meus pais se mudaram, para estar junto aos sete irmãos que já lá estavam.

Antes de terminar os 4 anos de primário, com nove anos e meio deixei a família para iniciar minha peregrinação: até 1952 estudei, como interno, em Pinheiro Marcado, a uns 50 km de Colorado.

Em janeiro de 1953 fui a Aparecida do Norte, São Paulo, onde cursei o ginásio e colégio – correspondentes ao Ensino Fundamental e Ensino Médio – até 1958.

Em 1958 residi em Pindamonhangaba, SP, onde fiz o Noviciado, ao final do qual professei na Congregação Redentorista, da qual sou membro professo até hoje. Os redentoristas são um grupo religioso chamado Congregação do Santíssimo Redentor, fundado em 1732 em Nápoles, Itália, por Santo Afonso Maria de Liguori, um nobre italiano que, após se decepcionar com a profissão de advogado (com 16 anos já possuía um duplo doutorado em direito civil e eclesiástico) decidiu juntar um grupo de religiosos e fundar uma Congregação para ajudar os mais necessitados, principalmente economicamente. Os redentoristas estão, hoje, espalhados pelos cinco continentes, em quase todos os países do mundo. No Brasil, atuam em todos os Estados e se dedicam a uma pastoral extraordinária, como santuários, meios de comunicação, missões populares, etc.

De 1959 a 1964 realizei os estudos de Filosofia e Teologia, concluindo os dois cursos em seis anos.

Em meados de 1964, fui ordenado sacerdote, rezando minha primeira missa em Colorado, voltando após ter estado em São Paulo por 12 anos. Logo em 1965 iniciei a Faculdade de Letras, na PUCRS e ao mesmo tempo fiz uma pós-graduação em Sociologia, que me conferiu o título de sociólogo. De 1966 a 1968 residi em Passo Fundo, onde concluí o curso de Letras na UPF e comecei a lecionar, principalmente sociologia.

Em 1969 retornei a Porto Alegre, que ficou sendo minha referência residencial até hoje, na região de Porto Alegre residi em ao menos sete locais diferentes: Viamão, por três anos; no centro da cidade, bairro do Bom Fim; no Jardim Carvalho, especificamente na Vila Cefer, Vila Pinto, São Carlos e próximo à PUCRS. A experiência mais provocante de minha vida foi ter morado na Vila Pinto, uma vila irregular, com ao redor de 10 mil pessoas. Vivíamos – um seminarista, um outro sacerdote e eu – inicialmente, nos fundos de uma residência de amigos e depois numa casinha de madeira semelhante às demais. Quando passamos a residir lá, quase não entravam conduções na vila, o esgoto era a céu aberto e havia valas que impediam até mesmo a passagem de pedestres, muitas vezes. Conseguimos organizar uma associação de moradores que se responsabilizou, junto com a Prefeitura – governo de Olívio Dutra, 1988 – pelo planejamento e urbanização da Vila. Foi um ano de reuniões com os moradores das inúmeras vielas, para decidir por onde passariam as ruas, quais casas seriam removidas – foram ao redor de 300 –, e resolver os inúmeros problemas que iam surgindo. Eram várias reuniões semanais, principalmente à noite, quando os moradores voltavam do trabalho. Aos poucos foi sendo feito o esgoto cloacal, depois o pluvial, finalmente o asfaltamento das ruas. Já tinham sido feitas diversas tentativas de urbanização da vila, que nunca deram certo, pois não incluía, como requisito indispensável, a participação dos moradores no planejamento e em parte da execução. As tentativas anteriores eram geralmente planejadas por “técnicos”, que partiam “de cima”, removendo barracos e isso imediatamente provocava a resistência dos moradores e o plano falia. A experiência de três anos de trabalho participativo mostra que essa urbanização foi, como muitos disseram, “uma experiência que deu certo”. Atuava, como sempre atuei até hoje, na pastoral da periferia, como sacerdote, mas sempre em sintonia e articulado com os movimentos sociais. Em diversas vilas há “igrejinhas” e centros comunitários, construídos em mutirão, como na Vila Esmeralda – antiga Tamanca –, Vila dos Herdeiros, ou Beco dos Cafunchos, Vila Joana d’Arc, e na própria Vila Pinto, com exceção de diversos períodos em que tive de me ausentar para diferentes atividades: nos anos de 1972 e 73 residi em Milwaukee, Estado de Wisconsin, Estados Unidos, onde concluí o curso de Mestrado em Psicologia Social na Marquette University. Vivi lá com um frei capuchinho, um verdadeiro São Francisco, e juntos montamos uma refeição, ao final da tarde, para os miseráveis da cidade – prostitutas, bêbados, viúvas, etc que chegava a dar comida até a 300 pessoas no fim do mês, quando o pay-check já tinha terminado. Nesse tempo morei por três meses em Genebra, Suíça, onde mantive contato com Paulo Freire, sobre quem escrevi minha dissertação de mestrado.

Com Paulo Freire – Genebra

Retornei a Porto Alegre e comecei a trabalhar no mestrado em Psicologia da PUCRS, até junho de 1977, quando retornei a Madison, capital do Estado de Wisconsin, onde concluí o doutorado em Psicologia Social e Comunicação na University of Wisconsin.

Segundo me disseram ao defender a tese, em janeiro de 1980, teria sido o doutorado mais curto do Departamento – que remonta ao século XIX -: junho de 1977 a janeiro de 1980. De agosto de 1984 até maio de 1987 residi em Brasília, onde trabalhei como assessor nacional da CNBB para assuntos da área social: questões da terra, moradia, migrações, prisões, mulheres marginalizadas, etc. Participei inclusive da fundação do Movimento dos Sem Terra, no Paraná

De meados de 1990 a meados de 1991, fiz meu primeiro pós-doutorado no “Center for Social Structure and Social Change”, da University of Wisconsin, Madison, Estados Unidos.

De 1992 a 1998, ausentava-me de Porto Alegre a cada dois anos, por espaço de três a quatro meses, para lecionar na Accademia Alfonsiana, ligada à Universidade Lateranense, em Roma. Apresentava lá um curso, Ética na mídia, e um seminário, Teologia e Economia.

Accademia Alfonsiana – Roma
Ruínas de Óstia

Essa última foto é para mim significativa e foi tirada nas ruínas de Óstia, o porto de Roma, e mostra a praticidade dos romanos. Eles não faziam reuniões almoço, mas, em compensação, aproveitavam outros ambientes e outras situações para fazer suas reuniões e bate-papos… Continuo ligado a uma associação de pesquisadores e estudiosos de Ética e Moral.

A década de 1990 foi marcada por muitas atividades de assessoria em âmbito latino-americano, como no trabalho com a Pastoral da Juventude na Bolívia, na Nicarágua, palestras no Canadá, como também como membro da Comissão Justiça e Paz, dos Redentoristas, onde pude entrar em contato com diversos movimentos sociais e colaborar no apoio e implemento de ações libertadoras nos cinco continentes.

De 2001 a 2002, fiz meu segundo pós-doutorado na University of Cambridge, em Cambridge, Inglaterra, aprofundando questões de Psicologia Social e Comunicação. Trabalhei lá com John B. Thompson, de quem tinha traduzido dois livros.

Com John B. Thompson – Cambridge

Gosto de dizer e comentar que aprecio, entre outras, duas atividades culturais que curto com prazer, e que se complementam. A primeira consiste em pesquisar minhas origens de imigrante italiano, tanto na Itália, onde descobri parentes da família, como no Brasil, onde já conseguimos organizar vários encontros dos inúmeros “ramos” da “Famiglia Guareschi – Guerreschi”.

E a segunda, curtir a tradição gaúcha, principalmente promovendo a genuína tradição rio-grandense, inclusive rezando “missas crioulas”.

Entre as atividades acadêmicas, privilegio sempre as que mais se relacionam com questões de justiça e cidadania. Minhas pesquisas iniciaram já em 1980, quando, em duas oportunidades, passei trinta dias em cada vez, divisa com a Colômbia e Venezuela, no Alto Solimões, pesquisando a “Irmandade da Santa Cruz”.

Alto Solimões
Alto Solimões – Pesquisando a “Irmandade da Santa Cruz”

Passei a pesquisar depois a relação entre mídia e religião e mídia e política. Sou, atualmente, conselheiro do Instituto Alana (www.alana.org.br).

Colaborei, por vários anos, com a Comissão de Direitos Humanos do Conselho Federal de Psicologia, em Brasília. Foram experiências interessantes.

Prestei meus serviços também, por sete anos, como membro efetivo do Grupo “Ética na TV”, implementando a Campanha “Quem Financia a Baixaria é contra a Cidadania”, do Comitê de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados e, nos últimos anos, fiz parte do Grupo de Trabalho do Ministério da Justiça, para a discussão e implementação da regulamentação para a Classificação Indicativa dos filmes e programas de televisão.

Desde setembro de 1969, até março de 2009, durante 40 anos, estive ligado, com contrato de trabalho CLT, à PUCRS. Percorri ali todos os escalões possíveis e fui professor titular e orientador de dissertações e teses no Programa de Pós-Graduação em Psicologia.

Pedi para sair fui de imediato convidado para ser professor colaborador permanente no Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social e Institucional da UFRGS, onde vocês, de repente, podem me encontrar. Continuo mantendo minha linha de pesquisa como pesquisador do CNPq (1A), com encontros semanais com o grupo de leitura e reflexão e mantenho meus contatos internacionais, com Reino Unido, França, Itália, Austrália e com outros pesquisadores no Brasil. Resido à Av. Bento Gonçalves, 4714 – fundos, no Bairro São José, numa comunidade com sacerdotes e estudantes de Teologia. Viajo um bocado para várias atividades, de todo gênero – acadêmicas, religiosas, educação popular, assessoria a movimentos populares, etc. – sempre que possível.

Atividades acadêmicas, pastorais e culturais, pesquisas, conferências, escritos e consultoria.